Quando o projeto musical ERA surgiu no final dos anos 1990, o mundo inteiro foi surpreendido por uma sonoridade que parecia vir de um tempo esquecido. Misturando elementos do canto gregoriano, música eletrônica, arranjos épicos e um forte apelo visual, o grupo idealizado pelo compositor francês Eric Lévi rapidamente se tornou um fenômeno global. Entre todas as faixas, nenhuma marcou tanto quanto “Divano”, um hit que atravessou gerações e se tornou símbolo da estética mística e espiritual da banda.
Mas o que muitos não sabem é que por trás da atmosfera envolvente de Divano existe um detalhe curioso: a música é cantada em um idioma que simplesmente não existe. E justamente esse “não idioma” ajudou a transformar a faixa em um marco da música contemporânea.
A ideia de ERA sempre foi unir o ancestral ao moderno, criando uma experiência que evocasse memórias e emoções universais. Em vez de usar uma língua concreta — como latim, italiano ou aramaico, estilos comuns em músicas com estética religiosa — Eric Lévi decidiu inventar sons vocais que soassem antigos, sagrados e misteriosos, mas que não tivessem significado literal. Assim nascia a “língua fictícia de ERA”, utilizada não apenas em Divano, mas em várias outras músicas do projeto.
A faixa se tornou imediatamente reconhecível pelos seus vocais etéreos, seu coro feminino marcante e pela construção sonora que provoca, ao mesmo tempo, calma e grandiosidade. A ausência de palavras reais abriu espaço para que cada ouvinte criasse sua própria interpretação — uma experiência mais emocional do que racional. Segundo Lévi, esse era exatamente o objetivo: tocar sentimentos profundos sem a barreira do idioma.
Musicalmente, Divano combina sintetizadores hipnóticos, percussões discretas e harmonias vocais que lembram cânticos medievais. O resultado é uma obra que parece ter sido tirada de um ritual ancestral, mas com produção moderna e envolvente. Esse contraste ajudou a definir a identidade de ERA e o colocou entre os grandes sucessos do início dos anos 2000, sendo usado em comerciais, aberturas de TV e trilhas sonoras em diversos países.
Além do aspecto musical, Divano se destacou também pelo seu apelo visual. O videoclipe, fiel ao estilo “épico-místico” do projeto, apresenta uma narrativa simbólica envolvendo guerreiros, luzes, sombras e elementos que lembram mitologias antigas. A estética reforça a sensação de que a música pertence a um mundo paralelo, antigo e ao mesmo tempo atemporal — um universo característico de ERA.
O fato de a faixa ser cantada em uma língua inexistente também colaborou para que ela fosse adotada por campanhas publicitárias e programas de TV que buscavam transmitir sensações de mistério, espiritualidade ou transcendência. A ausência de significado literal transformou Divano em uma espécie de “trilha universal”: ela poderia representar quase qualquer emoção profunda.
Esse tipo de escolha artística não era comum na época e ajudou ERA a se diferenciar de outros projetos musicais. Em vez de tentar recriar fielmente um canto religioso histórico, Eric Lévi preferiu criar algo totalmente novo, mas que evocasse essa atmosfera. É como se Divano fosse uma janela para um passado que nunca existiu — e talvez por isso seja tão fascinante.
Ao longo dos anos, a música continuou conquistando novas gerações graças à sua presença constante nas redes sociais, playlists de músicas relaxantes e vídeos temáticos. A estética cinematográfica da faixa fez com que ela se tornasse um clássico moderno, sempre redescoberto por novos ouvintes.
Hoje, mais de duas décadas após seu lançamento, Divano permanece como uma das obras mais icônicas do ERA, simbolizando toda a proposta do projeto: mistério, emoção, espiritualidade e beleza. Seu idioma fictício não limita — ao contrário, liberta a música para que ela pertença a todos os povos, culturas e momentos.
E talvez esse seja o verdadeiro segredo de Divano: ao não dizer nada, ela diz tudo.
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