terça-feira, 2 de setembro de 2014

Depressão em pacientes com degeneração macular pode ser prevenida

Com o envelhecimento da população, o número de pessoas com degeneração macular, afetadas pela baixa visão ou visão subnormal, e consequente depressão, tende a aumentar. Promover interações entre Oftalmologia, Psiquiatria e Psicologia pode prevenir a depressão na população idosa


O primeiro estudo clínico a examinar a relação da baixa visão ou visão subnormal e do tratamento de saúde mental mostrou que uma abordagem integrada pode reduzir a incidência de depressão pela metade entre as pessoas com baixa visão ou visão subnormal devido à degeneração macular relacionada à idade (DMRI). Os resultados da pesquisa foram publicados na Ophthalmology, revista da Academia Americana de Oftalmologia.

“A baixa visão ou visão subnormal é uma deficiência visual que interfere na capacidade da pessoa de realizar suas tarefas diárias. O problema da visão não pode ser corrigido com o uso de óculos comuns, lentes de contato, medicamentos ou cirurgia. Uma causa muito comum de baixa visão ou visão subnormal é a degeneração macular relacionada à idade (DMRI), uma condição que causa perda da visão central”, explica o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454), diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.

Estima-se que 11 milhões de americanos atualmente tenham degeneração macular, e a prevalência deverá crescer para 21,6 milhões de pessoas até 2050. Até 30% das pessoas que vivem com degeneração macular desenvolvem depressão, comorbidade que está associada com níveis mais elevados de invalidez, despesas médicas e mortalidade.

“Apesar disso, muitas pessoas deprimidas não recebem tratamento algum, porque elas encaram a depressão como uma falha pessoal ou como algo inerente ao envelhecimento. Depressão é algo que deixa o paciente inseguro, principalmente quando ele é idoso”, afirma o oftalmologista Juan Caballero, (CRM-SP 63.017), que também integra o corpo clínico do IMO.

De acordo com dados de um levantamento recente, feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, com base nos dados do sistema de mortalidade do Datasus, em 16 anos, o número de mortes relacionadas com depressão cresceu 705% no Brasil. Estão incluídos na estatística casos de suicídio e outras mortes motivadas por problemas de saúde decorrentes de episódios depressivos. No Brasil, a faixa etária correspondente à terceira idade é a que reúne as estatísticas mais preocupantes. No caso de mortes relacionadas à depressão, os maiores índices estão concentrados em pessoas com mais de 60 anos, com o ápice depois dos 80 anos.

Tratamento da baixa visão ou visão subnormal

Atualmente, o tratamento mais comum para a baixa visão ou visão subnormal devido à degeneração macular relacionada à idade é a reabilitação visual. “Este tratamento envolve a avaliação da visão funcional do paciente, a prescrição de dispositivos de assistência e a instrução sobre o uso desses dispositivos, mas não inclui qualquer tipo de apoio psicológico para o paciente”, informa Juan Caballero.

Para investigar o valor da integração da terapia psicológica aos pacientes com baixa visão ou visão subnormal, em reabilitação, os pesquisadores acompanharam 188 pacientes, com média de idade de 84 anos, com degeneração macular relacionada à idade diagnosticada em ambos os olhos e que apresentavam os primeiros sinais de depressão.

Nomeado de VITAL (Low Vision Depression Prevention Trial), o estudo de 2013, primeiro possibilitou a cada participante duas sessões ambulatoriais de reabilitação para a baixa visão ou visão subnormal em clínicas de Optometria. Em seguida, os pacientes foram divididos aleatoriamente em dois tipos de terapia psicológica: participaram de sessões de terapia comportamental e de terapia de apoio.

Após quatro meses, os pesquisadores avaliaram oito variáveis​​, incluindo depressão, estado da visão, qualidade de vida, estado de saúde física e uso dos dispositivos para baixa visão ou visão subnormal, e descobriram que a incidência de transtornos depressivos foi metade no grupo que fazia terapia comportamental em relação ao  grupo de terapia de apoio (12,6 % contra 23,7%, respectivamente).

A redução do risco de depressão foi maior em participantes com pior visão do que nos participantes com melhor visão (20% contra 3,4%, respectivamente). Além disso, a terapia comportamental foi associada com uma visão funcional de perto melhorada, mas a diferença entre os dois grupos não era estatisticamente diferente.

Os pesquisadores também descobriram que os participantes que autoavaliaram sua saúde “como pior” foram associados a uma maior incidência de depressão, independentemente do tratamento utilizado, indicando que aqueles com pior percepção da própria saúde requerem uma intervenção mais intensiva.

"Os resultados desse novo estudo demonstram que o encaminhamento dos pacientes com baixa visão ou visão subnormal relacionada com a degeneração macular relacionada à idade à reabilitação visual não atende plenamente as necessidades de reabilitação desses pacientes. Esse é apenas um dos passos do tratamento. A nova pesquisa indica, que em alguns casos, os oftalmologistas precisam estar mais atentos a estes pacientes, especialmente se forem idosos, para quando necessário, fazerem um encaminhamento ao psicólogo ou ao psiquiatra. O cuidado interdisciplinar pode ajudar a reduzir significativamente a incidência de depressão em pacientes com DMRI", defende Caballero.

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