Em tupi-guarani, Itaipu quer dizer “a pedra que canta”. Era
este o nome de
uma ilhota, que permanecia quase todo o tempo escondida pelas águas, onde
os técnicos verificaram que havia um rendimento energético excepcional, em
virtude de um longo cânion escavado pelo Rio Paraná.
Em 1973, foi esse o ponto escolhido pelos engenheiros e técnicos que
desenvolviam o projeto da nova usina. Depois de muitas análises feitas a
bordo de um barco, eles tinham encontrado o local onde seria erguida a
usina. O nome seria uma consequência dessa escolha.
No ano seguinte, com a chegada das primeiras máquinas ao canteiro de obras,
começaria a ser construída a Itaipu Binacional. O passo decisivo para essa
construção de seu exatamente há 40 anos, em 17 de maio de 1974, com a
criação da empresa.
Um “trabalho de Hércules”, na avaliação da revista “Popular Mechanics”, dos
Estados Unidos, que em 1995 incluiu a usina entre as sete maravilhas
mundiais da engenharia.
No segundo semestre de 1984, estava estruturado o acampamento pioneiro, com
as primeiras edificações para escritórios, almoxarifado, refeitório,
alojamento e posto de combustíveis, que existe até hoje. As estradas de
terra de acesso ao canteiro de obras foram abertas.
“Formigueiro”
Pouco a pouco, a região começava a transformar-se num “formigueiro” humano.
Entre 1975 e 1978, mais de 9 mil moradias foram construídas nas duas
margens para abrigar os homens que atuavam na obra. Foi necessário erguer
até um hospital, o Madeirinha, que mais tarde se tornaria o Costa
Cavalcanti.
À época, Foz do Iguaçu era uma cidade com apenas duas ruas asfaltadas e
cerca de 20 mil habitantes. Em apenas dez anos, a população saltou para
101.447 habitantes.
No canteiro de obras, a primeira tarefa foi alterar o curso do Rio Paraná,
removendo 55 milhões de metros cúbicos de terra e rocha para escavar um
desvio de dois quilômetros de extensão, 150 metros de largura e 90 metros
de profundidade. Em 20 de outubro de 1975, as duas ensecadeiras que
protegiam a construção do novo curso foram explodidas, liberando a entrada
de água do Paraná. O novo canal permitiu que o trecho do leito original do
rio fosse secado, para receber a barragem principal, em concreto.
A nova fase de construção da usina é a concretagem da barragem, que exigia
mais e mais operários: entre 1978 e 1981, até 5 mil pessoas eram
contratadas por mês. No pico das obras, Itaipu utilizou cerca de 40 mil
trabalhadores no canteiro de obras e nos escritórios de apoio no Brasil e
no Paraguai.
Na obra, o lançamento de concreto na barragem bateu um recorde
sul-americano em 14 de novembro de 1978: 7.207 metros cúbicos, o
equivalente a um prédio de dez andares a cada hora ou 24 edifícios num só
dia. O total de concreto despejado na barragem - 12,3 milhões de metros
cúbicos - seria suficiente para concretar quatro rodovias do porte da
Transamazônica.
Mais números gigantescos: em 1980, o transporte de materiais para a
construção da usina mobilizou 20.113 caminhões e 6.648 vagões ferroviários.
Montagem
Com a concretagem quase pronta, a fase seguinte foi a montagem das unidades
geradoras. O transporte de peças inteiras, dos fabricantes até a usina, era
um grande um desafio.
A primeira roda da turbina, com 300 toneladas, saiu de São Paulo em 4 de
dezembro de 1981 e chegou ao canteiro de obras somente em 3 de março de
1982. Como a rede viária e algumas pontes existentes nas várias
alternativas de trajeto não tinham condições de suportar o peso, a carreta
que levava a peça teve de percorrer o caminho mais longo, com 1.350 km. O
transporte das rodas de turbina ganharia agilidade posteriormente. O
recorde foi de 26 dias de viagem entre a fábrica e a usina.
As obras da barragem chegaram ao fim em outubro de 1982. Mas os trabalhos
na Itaipu prosseguiram. O fechamento das comportas do canal de desvio, para
a formação do reservatório da usina, deu início à operação Mymba Kuera (que
em tupi-guarani quer dizer “pega-bicho”). A operação salvou a vida de
36.450 animais que viviam na área a ser inundada pelo lago.
Justamente na época do enchimento do reservatório, o Rio Paraná enfrentou
uma enchente histórica. Em consequência, as correntezas do Rio Paraná,
somadas às chuvas abundantes naquele período, levaram apenas 14 dias para
encher o reservatório de 1.350 km², o sétimo maior do Brasil.
No dia 5 de novembro de 1982, os presidentes do Brasil, João Figueiredo, e
do Paraguai, Alfredo Stroessner, acionaram o mecanismo que levanta
automaticamente as 14 comportas do vertedouro e liberam a água represada do
Rio Paraná. Assim, foi oficialmente inaugurada a maior hidrelétrica do
mundo, após mais de 50 mil horas de trabalho.
Decisão
A entrada em operação da usina, prevista inicialmente para 1983 (atrasou
apenas um ano), correu o risco de ser adiada indefinidamente. O Brasil, que
na década anterior crescia celeremente, foi duramente atingido pela segunda
crise do petróleo, a de 1979, que afugentou os investidores. Ninguém mais
queria emprestar dinheiro, a não ser a juros astronômicos.
Apesar dessa situação difícil, o governo brasileiro decidiu que a produção
deveria começar o mais depressa possível. Outras obras sofreriam atrasos ou
poderiam parar, como a Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói e o programa
nuclear brasileiro, mas Itaipu, já com 85% das obras civis concluídas e com
as demais obras com contratos que precisavam ser honrados, teria que
prosseguir.
Na época, a maior hidrelétrica em operação no Brasil era Ilha Solteira, a
montante do rio Paraná, na divisa dos estados de São Paulo e Mato Grosso.
Concluída em 1978, Ilha Solteira tinha 20 unidades geradoras e 3.444 MW de
potência instalada, bem inferior aos 12.600 MW das 18 primeiras unidades
projetadas para Itaipu (outras duas unidades foram instaladas em 2006 e
2007, ampliando a capacidade para os atuais 14 mil MW).
E a obra prosseguiu, mesmo que inicialmente o Brasil já não tivesse
necessidade da energia que Itaipu iria gerar. O quadro mudaria radicalmente
já em meados da década de 1990, quando Itaipu passou a produzir acima da
energia garantida prevista no Tratado de Itaipu – 75 milhões de MWh.
Foram 77,2 milhões de MWh em 1995, 81,6 milhões de MWh em 1996 e assim
sucessivamente – energia que o Brasil cada vez mais precisava. A usina
rompeu a barreira dos 90 milhões de MWh em 1999, mas por muito pouco –
foram 90.001.654 de MWh.
No dia 17 de maio de 1974, há exatos 40 anos, era constituída a empresa
binacional Itaipu, para gerenciar a obra e, futuramente, administrar o
empreendimento hidrelétrico.
Começaria ali a saga da construção de um megaempreendimento, que mobilizou
milhares de pessoas e bilhões de dólares e transformou parte do Oeste
paranaense e todo o Paraguai. Uma obra que gerou, obviamente, muitas
polêmicas e dúvidas, mas que logo se confirmaria como essencial para o
desenvolvimento dos dois países.
Resultado de intensas negociações diplomáticas, Itaipu é também uma grande
obra de engenharia política, financeira e jurídica, mesmo antes dos
projetos começarem a sair do papel.
Um breve resumo do que representou Itaipu para os dois países:
Diplomacia: Permitiu a resolução pacífica de uma disputa de fronteiras
entre Brasil e Paraguai.
Integração: A entidade binacional criada para construir a usina de Itaipu
foi uma iniciativa precursora de integração entre países no continente
sul-americano, sendo um dos exemplos que levaram à criação do Mercosul.
Infraestrutura: A construção da usina exigiu a implantação de estradas,
ruas, escolas e hospitais nas duas margens, Brasil e Paraguai.
Economia: O pagamento de royalties pela geração de eletricidade representa
aproximadamente US$ 230 milhões por ano a cada país. No Brasil, o montante
repassado aos municípios vizinhos ao reservatório significa em média um
aumento de 52% na arrecadação, beneficiando cerca de 600 mil pessoas.
Referência: A usina binacional hoje é referência não apenas na produção de
energia elétrica, mas também no bom uso dos recursos naturais renováveis;
destaca-se pelas políticas de direitos humanos, onde se incluem projetos
sociais e a defesa da equidade de gênero e raça.
E é também referência no apoio ao desenvolvimento de energias alternativas,
como o biogás, e no estímulo e incentivo ao ensino superior e à criação de
novas tecnologias, para citar apenas alguns dos muitos aspectos positivos
de Itaipu.
Usina dos recordes: muito além do que previa o projeto
Neste ano, mais precisamente no dia 5 de maio, a Itaipu completou 30 anos
de geração. Outro marco na história da empresa. Entre 2003 e 2013, a usina
de Itaipu produziu, em média, 91,3 milhões de megawatts-hora (MWh), volume
muito superior à energia garantida, prevista no Tratado que deu origem à
binacional: 75 milhões de MWh.
A produção de 2013 - 98.630.035 MWh - garantiu 17% de toda a energia
elétrica consumida no Brasil e atendeu 75% da demanda paraguaia.
Mesmo com capacidade 60% superior, a usina chinesa de Três Gargantas – a
maior do mundo, com 22.400 MW de potência contra os 14 mil MW de Itaipu –
não superou o volume gerado pela binacional brasileiro-paraguaia em 2012 e
em 2013.
O alto índice se explica principalmente pelo bom desempenho do Rio Paraná,
que, graças às mais de 45 usinas a montante de Itaipu, mantém um fluxo de
água superior a 8 mil metros cúbicos por segundo durante mais de 90% do
tempo.
Mas há também outros fatores. Entre os mais importantes, estão o bom
projeto da usina, a gestão técnica e administrativa eficiente e o perfeito
entrosamento entre a área técnica de Itaipu e as empresas da cadeia de
energia do Brasil e do Paraguai (Eletrobras, ONS, Ande, Copel e Furnas,
Especialmente). Com destaque para os padrões de excelência na operação e na
manutenção.
Total acumulado
Desde a entrada em operação efetiva da primeira unidade geradora, em 5 de
maio de 1984 – nove anos depois do início das obras da usina -, Itaipu
gerou um total acumulado de 2,16 bilhões de MWh, energia suficiente para
abastecer o mundo inteiro por 38 dias.
O maior mercado consumidor de eletricidade do mundo, a China, poderia ser
abastecido por 5 meses e 9 dias; os Estados Unidos, por 6 meses e 5 dias.
O mercado brasileiro, por sua vez, teria energia por 4 anos e 8 meses,
enquanto seu parceiro no empreendimento, o Paraguai, seria atendido por
nada menos que 176 anos e 9 meses.
Ainda mais
Embora detenha o recorde mundial de geração de energia, a área técnica de
Itaipu ainda não está satisfeita. A meta, para os próximos anos, é atingir
100 milhões de MWh.
Para isso, segundo o diretor técnico executivo, Airton Dipp, será preciso
garantir a “saúde” dos equipamentos, que operam ininterruptamente há 30
anos, com investimentos constantes na manutenção e, onde isso for possível,
também na atualização tecnológica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário