terça-feira, 13 de maio de 2014

40 anos de história: Itaipu transforma Foz em um dos maiores municípios do Paraná

Imagine se, de um dia para o outro, três famílias iguais a sua chegassem para viver na sua casa. Parece cômodo? Haveria cama, comida e banheiros para todos? Pois foi mais ou menos essa a sensação dos 30 mil habitantes da pacata Foz do Iguaçu no começo da década de 1970, quando foi anunciada a construção da maior hidrelétrica do mundo na cidade. Foi preciso mudar muita coisa para receber bem os milhares de trabalhadores que vieram de todo o Brasil para participar da obra.


Curiosamente, quando Foz do Iguaçu completa 100 anos, Itaipu chega aos 40. E a cidade cresceu muito nas últimas décadas, acelerada pela construção da usina.

Se, de acordo com o Censo do IBGE de 1970, Foz era apenas a 48ª do Paraná em população - atrás de municípios como Dois Vizinhos, Jacarezinho e Santo Antonio da Platina -, no Censo de 2010 o município aparece como o sétimo mais populoso, com 256.088 habitantes. É, também, dono da sétima maior economia do Estado, segundo dados de 2011 do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

Nesses 60 anos antes da “chegada” da binacional, o que se via por aqui era muito diferente. Em vários sentidos: o mais óbvio, logicamente, o alagamento de mais de 1.000 km² de terras, em sua maioria fazendas e plantações. Os “veteranos” da Itaipu conhecem bem essa história, mas os recém-chegados à empresa e à cidade talvez nem tenham noção das mudanças rápidas e profundas que as águas trouxeram à região.


“Os agricultores que ocupavam estas áreas precisaram migrar para o centro urbano de Foz do Iguaçu e de outras cidades lindeiras, mas uma boa parte imigrou para outros estados, como Mato Grosso e Rondônia”, escreveu o doutor em Engenharia Mauro Alixandrini em sua tese sobre Itaipu. Por outro lado, a usina atraiu trabalhadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, e muitos acabaram formando família e adotando a cidade como lar permanente.

O diretor-geral brasileiro, Jorge Samek, presenciou a mudança. “A gente conhecia as pessoas pelo carro. Tinha 100 números de telefone, do 200 até o 299, e só dois prédios, o hotel Diplomata e o Banco do Brasil. Depois foi construído o hotel Salvatti, com um cinema. Antes tinha um cinema de palco, o Cine Star, com cadeira dura, mas o Cine Salvatti era para mil pessoas, com boate e tudo, e Foz começou a virar essa doideira”, lembra.

Na década de 1970/80, período da implantação da usina de Itaipu, a população cresceu em torno de 300%, passando de 34 mil para 136 mil habitantes, explica Alixandrini. E, assim como os visitantes na sua casa, essas pessoas precisavam de infraestrutura: moradia, saneamento, educação, saúde, alimentação... Mas a Itaipu sabia dos transtornos e desde o começo fez o possível para ajudar os “donos da casa”. Nas palavras do DGB: “Imagina hoje Foz do Iguaçu sem Itaipu?”.
    
Educação
Nessa época já havia Ponte da Amizade e Parque Nacional do Iguaçu – o turismo, aliás, era a maior fonte de renda da cidade desde a criação do parque, em 1939 –, mas não havia o menor sinal de Avenida JK, Hospital Costa Cavalcanti ou Colégio Anglo-Americano. São alguns exemplos da estrutura criada para atender a demanda dos barrageiros que acabaram se tornando parte da cidade mesmo após a obra.

A pesquisadora Milena Mascarenhas estudou os reflexos da construção da Itaipu na educação de Foz. Segundo ela, houve “um aumento significativo da criação de escolas municipais em Foz do Iguaçu a partir de 1970, mas, principalmente, na década de 80, período da construção de Itaipu. [...] Até a década de 60, havia oito escolas municipais em Foz do Iguaçu. Na década de 70, nove escolas foram criadas pelo município, duplicando o número em apenas uma década. E este cenário de crescimento de escolas continuou na década de 80 com mais 14 escolas”.

Por fim, visando proporcionar formação aos trabalhadores e suas famílias, surgiram as faculdades: “em 1979 iniciou os trabalhos da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Foz do Iguaçu – Facisa, inicialmente com os cursos de Administração, Ciências Contábeis e Letras e, é hoje, reconhecida como Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste”, escreveu Milena Mascarenhas.
     
Mão de obra
Até o início da construção da usina, Foz do Iguaçu vivia do comércio e do turismo no Parque Nacional, criado em 1939. A Ponte da Amizade, inaugurada em 1965, facilitou as relações com o Paraguai. E foi disso que muitos ex-barrageiros passaram a viver depois do fim das obras: abriram pequenos negócios, buscaram formação em outras áreas, importavam e exportavam. Mas não foi um período fácil.

A abertura de postos de trabalhos não acompanhou o ritmo do crescimento populacional. “A Itaipu Binacional também procurou empregar a população, mas sua natureza exigia o conhecimento técnico, o que excluía muitos, mas mesmo assim construiu uma grande infraestrutura turística”, escreveu a pesquisadora Lavínia de Martins em “O Turismo na História de Foz do Iguaçu”. Até hoje, o investimento da Itaipu no turismo gera emprego e renda para milhares de iguaçuenses.

Infraestrutura
Itaipu teve importância considerável na configuração da infraestrutura urbana da cidade. E não foi só a construção das casas na Vila A e Vila C; trata-se da via dupla ligando a cidade à obra – a Avenida Tancredo Neves. “Amplas avenidas de acesso aos conjuntos residenciais e em toda a sua área de abrangência; canalização de córregos, iluminação em certas áreas; segurança nas proximidades dos três conjuntos construídos pela empresa, num total de 4.750 casas no lado brasileiro para abrigar seus funcionários e das empreiteiras”, enumera o historiador Rodrigo Paulo de Jesus.

“A empresa oferecia moradia, serviço médico, escolaridade gratuita, alimentação, além de um sistema de atividades extras como cinema, shows e jogos de salão. Tudo ficava a cargo da Diretoria de Coordenação de Itaipu, tanto do lado brasileiro quanto paraguaio”, completa o historiador. E praticamente tudo ficou: ao final da obra, esses foram “presentes” deixados à cidade e a seus moradores.

Segundo dados da revista Construção da Pesada de 1979, Foz do Iguaçu registrou, durante quatro anos de obras, um aumento do número de estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços, aumento no número de casas ligadas por rede de esgotos, da rede de abastecimento de água e do número de telefones instalados, colocando Foz do Iguaçu na condição de um dos municípios de maior crescimento do Paraná naquele período.
    
Bairros e vilas
O impacto causado pelo aumento populacional em tão curto espaço de tempo representou grandes mudanças, às quais o município teve que se adequar. A questão da localização, por exemplo. Se hoje Foz do Iguaçu tem dois “centros” – o da Avenida Brasil e o da Vila A, é porque as moradias dos barrageiros foram construídas mais perto da usina do que da área urbana da cidade. Isso também gerou grandes áreas desocupadas no meio da cidade.

Para compreender a quantidade imensa de gente chegando, basta observar a imagem acima, que apresenta a malha urbana de Foz do Iguaçu em 1970, 1985, 1995 e 2007.

No artigo “A construção da usina hidrelétrica de Itaipu e seu impacto sobre a urbanização de Foz do Iguaçu”, os pesquisadores Leila Thaumaturgo, Silvio Simões e Isabel Trannin esclarecem: “Enquanto o mapa de 1970 apresenta uma malha urbana de 2,11 km² [...], o mapa de 2007 apresenta uma malha urbana de 191,46 km². Comparando os quatro mapas [...] observa-se que em 37 anos de urbanização (1970 a 2007), o crescimento da malha urbana foi de 6.602,06%” – algo raro de se encontrar em qualquer cidade do Brasil e do mundo.
Se a paisagem mudou, não se pode dizer o mesmo do clima. É verdade: muita gente acha que o clima de Foz do Iguaçu ficou mais quente ou mais úmido após a construção da usina, mas a mestre em Geografia Leila Limberger confirmou, em “O clima do Oeste do Paraná: Análises da presença do Lago de Itapu”, que Itaipu é inocente. Se os termômetros por aqui subiram, a culpa é de São Pedro, não do reservatório.
     
Perdas e ganhos
Mudar é difícil, muita gente não gosta. Ainda mais quando a mudança é rápida e não há como fugir dela, como foi o caso da Itaipu. Seria impossível imaginar Foz do Iguaçu, o Brasil e o Paraguai sem a energia da usina. Mas, é claro, o progresso têm ônus – como o desaparecimento das Sete Quedas, o desemprego e o êxodo rural, por exemplo.

Desde 1985, Foz do Iguaçu já recebeu mais de US$ 297,8 milhões em royalties da Itaipu, como compensação pela área alagada. Além disso, por ser sede da usina, a cidade é a 7ª do Paraná em arrecadação de Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Para este ano, a estimativa de receita total de ICMS é de R$ 104 milhões.

Juvêncio Mazzarollo, em “A taipa da injustiça”, resume bem a relação de antipatia e gratidão entre usina e cidade. “Itaipu foi edificada a um elevado custo econômico, social e ambiental, mas que resultou numa obra magnífica, que representa uma fantástica riqueza para o Brasil e o Paraguai. Importa que [...] Itaipu pague a conta, cubra os custos econômicos, sociais e ambientais que impôs aos dois países [...], e particularmente à população e à região por elas afetadas. Felizmente, é o que Itaipu vem fazendo, com dedicação, competência e amor à causa.” E que continuará fazendo durante muitos e muitos aniversários.

A Itaipu
A Itaipu Binacional é a maior usina de geração de energia limpa e renovável do planeta e foi responsável, em 2013, pelo abastecimento de 16,9% de toda a energia consumida pelo Brasil e de 70% do Paraguai. Em 2013, superou o próprio recorde mundial de produção e estabeleceu a marca de 98.630.035 megawatts-hora (98,63 milhões de MWh). Desde 2003, Itaipu tem como missão empresarial “gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico, sustentável, no Brasil e no Paraguai”. A empresa tem ainda como visão de futuro chegar a 2020 como “a geradora de energia limpa e renovável com o melhor desempenho operativo e as melhores práticas de sustentabilidade do mundo, impulsionando o desenvolvimento sustentável e a integração regional”.

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