segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Relógio surreal no Aeroporto Schiphol: o tempo pintado à mão por Maarten Baas

No movimentado Aeroporto de Schiphol, em Amsterdã, há uma atração que hipnotiza passageiros de todos os cantos do mundo — e não é uma loja de luxo, nem um painel de voos. É um relógio. Mas não um relógio qualquer: trata-se de uma obra de arte viva, criada pelo artista holandês Maarten Baas, que literalmente pinta o tempo com as próprias mãos.

À primeira vista, o “Schiphol Clock” parece apenas um grande relógio digital moderno, instalado em uma das áreas mais movimentadas do terminal. Mas ao olhar com atenção, o público percebe algo inusitado: dentro do relógio, um homem vestido como um operário azul parece apagar e repintar os ponteiros a cada minuto. A cada instante, ele “corrige” as horas, desenhando os ponteiros com precisão manual. É uma ilusão perfeita — um vídeo de 12 horas gravado por Baas, que se repete em loop e dá a sensação de que o tempo está sendo pintado ao vivo, ali mesmo, em tempo real.

O artista que faz o tempo ganhar vida

Maarten Baas é conhecido por suas obras provocativas e conceituais que desafiam a percepção comum de tempo, design e realidade. Nascido em 1978, ele se tornou um dos nomes mais reconhecidos do design contemporâneo, com criações que misturam arte, humor e filosofia. Em sua série “Real Time”, iniciada em 2009, o artista substitui os mecanismos convencionais de relógios por performances humanas, onde o tempo é “feito” por pessoas — literalmente.

O relógio de Schiphol é a culminação desse conceito. Para criá-lo, Baas passou horas dentro de um estúdio, gravando cada minuto de uma “jornada de trabalho” fictícia, na qual o personagem — ele mesmo — pinta e apaga os ponteiros com um pano e um balde. O fundo amarelo e o vidro translúcido criam uma aparência realista, dando a impressão de que há alguém de verdade dentro do relógio, dedicado a manter o tempo em dia.

Entre o tempo real e o tempo humano

O que torna essa obra tão fascinante é a sua reflexão sobre o próprio conceito de tempo. Em um ambiente onde tudo é corrido, apressado e sincronizado, como um aeroporto internacional, Baas propõe um contraponto poético: o tempo como algo artesanal, feito à mão, sujeito à imperfeição e à paciência.

Enquanto os passageiros passam apressados rumo a seus portões de embarque, o homem dentro do relógio trabalha incansavelmente, minuto a minuto, pintando o tempo que escapa. É uma metáfora sobre o mundo moderno — sobre nossa obsessão em medir e controlar o tempo, e ao mesmo tempo, nossa incapacidade de detê-lo.

O relógio que virou ponto turístico

Desde sua instalação em 2016, o relógio de Baas se tornou uma das atrações mais fotografadas de Schiphol. Turistas e locais param diante dele, encantados, tentando entender se há mesmo alguém lá dentro. Muitos ficam hipnotizados por minutos, observando o “pintor do tempo” em ação.

A obra fica localizada próxima à área de embarque internacional, e pode ser vista tanto por quem chega quanto por quem parte — um símbolo perfeito de passagem e transição. O próprio artista descreveu sua intenção com poesia: “O aeroporto é um lugar onde o tempo tem um papel central. É onde as pessoas esperam, contam os minutos, olham para o relógio. Eu quis transformar esse tempo em algo humano e visual.”

Tempo, arte e espanto

Em tempos de relógios digitais e notificações automáticas, Maarten Baas devolve ao tempo sua dimensão artística e humana. O relógio de Schiphol não serve apenas para marcar as horas, mas para lembrar que cada minuto é uma criação — que o tempo, no fim das contas, é uma obra em constante construção.

Quem passa por lá, entre um voo e outro, pode até esquecer por um momento a pressa e apenas observar. Porque às vezes, no coração de um aeroporto, o tempo não passa — ele é pintado, com calma, por um artista que decidiu transformar cada segundo em arte.

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