quinta-feira, 4 de setembro de 2025

José Sarney – O Primeiro Presidente da Nova República


José Sarney de Araújo Costa, maranhense nascido em 1930, foi o primeiro presidente civil após o regime militar, tornando-se uma figura central no processo de redemocratização do Brasil. Sua chegada ao poder não ocorreu de forma planejada: eleito vice-presidente na chapa de Tancredo Neves, em 1985, acabou assumindo a presidência após a morte de Tancredo, ainda antes da posse. Esse episódio marcou o início da chamada Nova República.

O governo Sarney (1985–1990) enfrentou enormes desafios. O país saía de 21 anos de regime militar, trazia consigo graves problemas econômicos, altos índices de inflação e grande expectativa popular pela volta da democracia. Sarney precisou governar equilibrando pressões políticas, sociais e econômicas, ao mesmo tempo em que simbolizava uma transição delicada entre o autoritarismo e a liberdade política.

Um dos principais feitos de sua gestão foi a Assembleia Nacional Constituinte, instalada em 1987. Sob sua condução, o Brasil elaborou a Constituição de 1988, chamada de "Constituição Cidadã", que ampliou direitos civis, sociais e trabalhistas, consolidou a democracia e estabeleceu bases modernas para o Estado brasileiro. Esse legado é considerado um dos marcos mais importantes de sua presidência.

No campo econômico, Sarney enfrentou um dos períodos mais críticos da história recente. A inflação descontrolada corroía o poder de compra da população, exigindo medidas urgentes. Nesse cenário, o governo lançou o Plano Cruzado em 1986, que substituiu a moeda (cruzeiro pelo cruzado), congelou preços e salários e buscou controlar a inflação. Inicialmente, o plano trouxe entusiasmo e apoio popular, resultando em grandes vitórias eleitorais para o partido de Sarney, o PMDB. Contudo, sem sustentação a longo prazo, a inflação retornou com força, obrigando o governo a lançar outros planos econômicos, como o Cruzado II, o Plano Bresser e o Plano Verão, todos com resultados limitados.

Politicamente, Sarney teve de lidar com um cenário novo: liberdade de imprensa, pluralidade partidária e movimentos sociais fortalecidos após anos de censura e repressão. Ao mesmo tempo, sua trajetória política anterior – como aliado do regime militar – fez com que sua figura fosse vista com certa desconfiança por setores mais progressistas. Ainda assim, conseguiu articular apoios importantes no Congresso e manter a estabilidade política necessária até o final de seu mandato.

Outro ponto marcante foi a realização das primeiras eleições diretas para presidente desde 1960. Em 1989, sob seu governo, o povo brasileiro voltou às urnas para escolher diretamente o chefe do Executivo, algo que simbolizou a consolidação da democracia. Sarney, por força da Constituição, não poderia se candidatar à reeleição, encerrando seu mandato em março de 1990, quando entregou o cargo a Fernando Collor de Mello.

O governo de José Sarney deixou uma herança contraditória: por um lado, o país consolidou a democracia, instituiu uma Constituição moderna e realizou eleições livres. Por outro, enfrentou um cenário de hiperinflação e dificuldades econômicas que marcaram negativamente a vida dos brasileiros naquele período.

Apesar das críticas, Sarney é lembrado como o presidente que conduziu o Brasil no delicado processo de transição, garantindo que a mudança do regime autoritário para a democracia acontecesse de forma pacífica e institucional.

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